Largar o que nos prende? A que estamos tão apegados? #dia7

Eu estava tomando o meu café e olhando tudo a minha volta. Contemplando cada pedacinho desse momento; o bagel recém saído da torradeira (um super substituto do pãozinho francês – “Obrigada Deus!”) manteiga… aquele cheirinho de café e até o sabor da geleia de framboesa ficou mais especial. Afinal, eu tinha que começar logo o meu plano de “me sentir presente”. E essa história de largar as coisas….

A noite anterior tinha sido reveladora. Quando deitei em minha cama, ainda com a cabeça a mil, fiquei buscando entender porque parecia tão difícil me manter presente. Fui ler meu livro, aquele em inglês da Rebecca Campbell que comentei, e me surpreendi com um dos capítulos que pedia para que pudéssemos pensar naquilo que estava nos prendendo. Algo que estivesse nos fazendo sentir presos, algo que não parecia andar. Podia ser um trabalho, um relacionamento, um projeto, uma ideia, qualquer coisa.

E o mais curioso é que me veio à mente, sem nenhum esforço, um projeto que eu estava tentando realizar de uma forma que acreditei que seria muito funcional, mas que estava se tornando muito trabalhoso e cansativo.

Então, o próximo parágrafo sugeria algo do tipo: “Largue isso!” . E imediatamente eu comecei a chorar (Sim, de novo! Estou muito emotiva mesmo!).

Como podemos simplesmente “largar” um trabalho, um relacionamento, assim?

E logo depois veio outra pergunta: “A que está apegado? Por que está tão apegado a isso?”.

Porque largar, desapegar pode nos fazer sentir que sem “isso” (a que estamos tão apegados) podemos ficar sem nada ou sentirmos como se não fôssemos mais nada. É ficar sem chão e sentir que não resta mais nada.

E eu continuei lendo e tentando absorver o que essas palavras queriam dizer: Largar… Apego.

Você poderá ficar no chão em pedaços, totalmente perdido. Afinal, sem esse trabalho, essa carreira, esse relacionamento (e sei lá mais o que que podemos nos apegar sem perceber) quem eu serei, o que vou fazer?

“Então, é por isso que nós temos tanto medo de mudar e “abandonar” determinadas coisas em nossas vidas?”, eu pensei.

E isso não era tudo! Ela afirmava: “e isso será ótimo!”.

“Ótimo?” – Na teoria parecia ser de fato muito interessante e para mim sempre me pareceu mesmo bem aceitável, deixar algumas escolhas e se permitir seguir em uma direção completamente nova, mesmo que seja difícil. Mas naquele momento, com toda aquela emoção, eu já não tinha mais tanta certeza: “No chão em pedaços. Isso é sério?”

Mas, segundo a autora, é ótimo porque quando nos percebemos sem nada, como “ninguém” é justamente a partir deste ponto que podemos saber quem realmente somos.

Porque ao largar algo e nos sentirmos em pedaços, o medo e a dor abrem fendas e é através destas rupturas que a luz pode passar. É assim que a nossa Luz se faz brilhar – descobrimos quem somos, acessamos nossa missão, nos percebemos como seres únicos e especiais.

Eu achei tão forte a forma como tudo aquilo estava escrito e aquelas palavras tiveram ressonância dentro de mim. Apego? Largar?

Eu me lembrei de um paciente que chegou ao consultório extremamente infeliz e debilitado emocional e fisicamente. Ele era jovem e já tinha alcançado um cargo executivo muito importante na empresa. Era inteligente, confiante e competente. Conseguiu tudo que desejava por total mérito e persistência. Por alguns poucos minutos, ele cogitou deixar tudo isso para trás, mas ele e eu sabíamos bem que ele jamais faria isso – pelo menos não nos próximos anos. A princípio, poderíamos pensar na parte financeira, no status social, ou ainda em todo esforço e trabalho duro até chegar “ao topo”. Mas, lendo essas páginas eu entendi que fazer isso é mais do que ter coragem. A questão é: “Quem ele seria a partir disso? Como reconstruiria “seus pedaços”? Atendi muitos casos assim no consultório, mas o olhar desse paciente me marcou profundamente. E eu somente pude ajudá-lo a se recompor e reunir as suas forças para seguir com seus planos – e mais nada! Quanto respeito senti por ele e por tantas outras pessoas nesse momento. Por isso, muitos de nós não conseguimos mudar de verdade.

Também me lembrei de um outro paciente que atendi por pouco tempo. Ele mal passou pela porta do consultório e a primeira coisa que me disse foi: “mexa no que quiser, mudo até de nome, mas não queira mudar nada na minha rotina de trabalho”. Não precisei ser a “Sherlock Holmes” da psicologia para adivinhar que o X da questão era exatamente o trabalho. Às vezes, queremos sentir a sensação de um mergulho molhando apenas as pontas dos pés.

Fiquei pensando se estamos mesmos dispostos a mudar. De verdade! Sem exceções, sem restrições, sem regras. Justos nós, cada ser nesse planeta que faz de tudo para evitar a dor? Temos tanto medo dessa sensação de desapego (e que desapego!) que podemos estar ofuscando a nossa Luz?

Eu tenho uma amiga da época do colégio que um dia me perguntou como poderia não mais sofrer em um relacionamento. Eu respondi que tinha um método infalível. Garantido! Eu já era psicóloga e ela realmente ficou super interessada. Eu disse: “fique bem aí nesse lugar e não se envolva com ninguém! Com certeza absoluta não vai mais sofrer por isso!”. O problema é que você não se apaixona, não sofre, mas também não se diverte e perde a chance de viver ótimos momentos e construir uma boa história. Mas, nós queremos os dois, não é? Quero amar com a garantia que não vou sofrer. Quero mudar, sem mudar nada de muito importante – pode ser?

Então, por alguns instantes eu ensaiei esse “largar”. Disse a mim mesma (claro que eu estava chorando, sentindo os “meus pedacinhos”): “Eu estou disposta a largar, eu deixo ir o que tiver que ir”. E fiquei ali por um tempo. E fui sentindo uma dor (somente pela possibilidade de deixar ir algumas coisas que realmente estava apegada) . “Quem sou eu sem isso?”, “Quais meus planos?”. Senti um vazio. Me senti esvaziando. Até que me senti leve e (uau!) feliz.

“O que foi isso?”. Eu senti medo, mas também a liberdade. O encantamento do desprendimento. Quase como aquela sensação de sair de um emprego chato – mas que a gente não percebia que era tão chato assim – e no primeiro dia é aquele misto de “Graças a Deus, estou livre, estou de férias!” e o famoso peso: “Mas, espera aí, o que eu vou fazer agora?”. E tem pessoas que sofrem tanto que quase querem o emprego chato de volta. Por que tem que ser tão complicado? (de novo).

E eu me lembrei que a vida toda eu sempre acreditei no leve, no fácil, naquilo que flui. Não acredito nessa história de “tem que lutar”, “ter que ter desafio”, “tem que demorar”, “tem que ser difícil”. Eu acredito em fluidez! E penso mesmo, que algo, que hora ou outra, sempre traz aquela sensação de dificuldade, é porque tem alguma coisa que não está bem. Mas será que tenho colocado isso em prática atualmente?

Bom, só sei que fui dormir leve e tive uma das melhores noites de sono. E acordei parecendo a Alice no meu País das Maravilhas, deslumbrada com tudo e com vontade de colocar em prática o plano de “sentir todas as coisas“, aproveitar todos os momentos. E por isso meu café da manhã foi o meu primeiro ensaio.

Muitas sensações e pensamentos. Essa história de “largar” ainda me acompanhou por mais algum tempo ao longo desse dia. Eu fico aqui pensando, “estou só no sétimo dia da Jornada e o que virá por aí?”.

E você? O que está prendendo você? E o que está ofuscando a sua Luz?

Com todo o meu amor,

Natalia Loyola

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